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domingo, 2 de dezembro de 2012

Se eu nascesse de novo - Luiz Gonzaga

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Eu sou um caboclo feliz... Ah!... Se eu nascesse de novo, eu queria ser o mesmo Mané Luiz!... Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, mais do que eu sou eu não queria ser. Eu queria nascer na Fazenda da Caiçara, lá em Exu, Pernambuco, mermo na divisinha do Ceará! É por isso que eu costumo dizer que uma banda minha é pernambucana, a outra banda é cearense!

Quando eu... Há!... Quero nem dizer!... Quando eu ficasse taludin assim, eu queria logo comprar uma sanfona, pra ajudar meu pai nos toque... lá nos forró!... Eu queria ser filho de Januário mesmo, e de Dona Santana!... Mais do que eu sou eu não queria ser não senhor!

Se eu nascesse de novo e pudesse escolher... Há!... Quando chegasse mil novecentos e trinta... Eu entrava no Colégio. Dezoito anos de idade... Colégio do pobre é o Exército Brasileiro! Sentava praça!... Há, há... Fazia revolução como o diabo, não dava nem um tiro! Eita Brasil bom danado!...

Ah!... Eu queria ser o Rei do Baião!... Mais... num era mole não, meu irmão! Quando eu chegasse no Rio de Janeiro, em trinta e nove, eu ia tocar na zona violenta, da pesada, lá no Mangue! Correndo o pires nos gringo! Queria ser tudo isso! Oxente, eu queria ser o Rei do Baião!...

Até que uma certa noite, chegasse lá assim, um grupo de cearenses. Diziam que eram universitários. Sei lá o que era isso! Eram estudante mesmo! Depois de me agradarem muito, fizeram uma exigência:

-- Olha, caboclo... quando a gente voltar aqui outra vez, nesse lugar, nós só damos dinheiro a você se você tocar um negócio lá daqueles pé de serra! Cê num é sertanejo? Ce num é lá da Serra do Araripe?

Eu digo: -- Sou!...

-- Tá feita a exigência!

Aí, eu fiz uma recaptulação. Organizei esse numerozin que eu entrei tocando com ele aqui agora, o Vira e Mexe. É... Foi o primeiro!... Quando os cearenses chegaram, eu disse pra eles:

-- Olha, tenho um negocin aqui pra empurrar em vocês.
-- Então manda!

Lasquei brasa!...

-- É isso aí, caboclo!

Naquele tempo era "caboclo". Agora é "bicho"!

-- É isso mesmo! Agora você pode até... visitar nossa república.
-- Que diabo é isso?
-- É uma república lá na Lapa. Da pesada. Lá é que é a pesada mermo! Só de cearense! E você tá convidado pra ir lá, tocar pra nós!

E eu fui, tava agradando! Há, há!... Fui conhecer a república dos cearenses. Quando eu cheguei lá, era a maior bagunça do mundo! Já viu? Há!... República de estudante, inda mais cearense?...

Aí, o Winton de Blade disse assim:

-- Apresento aí o Presidente da República!

Sabe quem era?... Armando Falcão! O home quase foi Presidente da... Quase foi Presidente da República mermo, rapais!... Bacharel!... Há!... Deputado, líder, ministro!... Foi tudo isso! Faltou pouco pra ser Presidente da República!

E se eu nascesse de novo e pudesse escolher, quando chegasse o dia – vinte quatro, hoje, né? – vinte e quatro de março, de mil novecentos e setenta e dois, a essa horinha mermin... cês querem saber onde é que eu queria estar? Era aqui, com vocês, no Teatro Tereza Rachel, enrolando vocês na conversa, contando essa história, com a presença do Deputado Armando Falcão, que tá aqui entre nós... que não me deixa mintir!... Foi no governo de Juscelino, que ele manobrou! Manobrou na política, meu irmão. Tem nada não! Nós tamo aí, o senhor na sua e eu na minha... Agora, o senhor está sentado aí, agüente meu negócio, que lá vai chumbo, caboco!...

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