É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um metro, é uma légua, é um pobre burrinho
É um caco de vida, é a vida, é o sol
É a dor, é a morte, vindo com o arrebol
É galho de jurema, é um pé de poeira
Cai já, bambeia, é do boi a caveira
É pé de macambira invadindo a cocheira
É vaqueiro morrendo, é a reza brejeira
É angico, é facheiro, é aquela canseira
É farelo, é um cisco, é um resto de feira
É a fome na porta, é um queira ou não queira
Na seca de março, é a fuga estradeira
É o pé, é o chão, é a terra assadeira
É o menino na mão, e mais dez na traseira
É um Deus lá no céu, Padre Ciço no chão
É romeiro rezando dentro de um caminhão
É um filho disposto partindo sozinho
No sul com a esperança, é um novo caminho
É o pai fatigado, é a mãe a lutar
É a cacimba distante, é a lata a pingar
É carcaça de bicho, é o mandacaru
É o mau cheiro chegando, é o vôo do urubu
É barriga de vento, é o corpo na rede
É anjinho morrendo, é a sede, é a sede
É o canto agourento daquela acauã
É o vôo da asa-branca no sol da manhã
É a seca de março torrando o sertão
É promessa de vida, é a nova eleição
É doutor deputado, é doutor coroné
É um pão, é uma feira, é um remédio no pé
É um poço, é uma pipa, é um cantor, é uma fã
É a troca e o troco, é depois de amanhã
É a seca de março torrando o sertão
É a promessa devida da outra eleição
É a seca de março torrando o sertão
É a promessa devida da outra eleição
É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Jessier Quirino
(Foi feita em cima de Águas de Março, do Tom Jobim)