Por Marcelle Honorato
Um suco
de manga no final da tarde, um jantar caprichado com macaxeira depois de um dia
de trabalho ou um doce de mamão depois do almoço. Não percebemos, mas essas
simples atitudes escondem um grande vilão: os agrotóxicos, venenos químicos
usados para acabar com pragas que podem destruir a produção dos alimentos.
Porém, a quantidade de veneno utilizada pelo agronegócio é tão grande que esses
agrotóxicos continuam nos alimentos quando chegam à mesa, e, consequentemente,
são consumidos pela população.
De acordo
com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o uso do agrotóxico no
Brasil aumentou e passou de 599,5 milhões de litros no ano de 2002 para 852,8
milhões de litros em 2011. Segundo o mesmo documento, um terço dos alimentos
consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado por agrotóxicos.
Hoje, o desafio é promover e fortalecer uma agricultura que não utilize
agrotóxico e gere saúde para as pessoas do campo e da cidade que consomem e
produzem os alimentos.
Um grupo
de 110 famílias agricultoras do Rio Grande do Norte não só aceitou o desafio de
produzir agroecologicamente, ou seja, sem venenos químicos, como fez questão de
comprovar a qualidade do seu produto por meio de um certificado internacional.
Agora as pessoas que moram na cidade de Apodi (RN) e nos municípios vizinhos
podem comprar macaxeira, manga, goiaba, pinha, acerola, mamão, caju, milho,
algodão, feijão, gergelim, melancia, jerimum, feijão-guandu e batata-doce
produzidos sem agrotóxicos. Conquistar esse certificado significa atestar a
qualidade de uma produção saudável para o meio ambiente e para as pessoas que
consomem o alimento e afirmar que o produto atende aos padrões internacionais
de qualidade. “A grande importância dessa conquista é poder atestar a qualidade
da produção das famílias, desmistificar a certificação e fazer com que as
famílias percebam a oportunidade de participar de vários momentos de
capacitação, compreendendo e colaborando no processo de coleta de informações sobre
a sua propriedade e produção”, explica a assessora político-pedagógica da
Diaconia, Hesteólivia Shyrlley.
Por
questões burocráticas, a certificação fica no nome da Cooperativa Potiguar de
Apicultura e Desenvolvimento Rural e Sustentável (Coopapi), organização
guarda-chuva que realiza o Projeto do Algodão Agroecológico e Consórcio e apoia
os produtores de castanha, caju e mel. Entretanto, a conquista pela
certificação concedida pelo Instituto Biodinâmico Certificações (IBD) é de cada
agricultor e agricultora que se esforçaram durante todo o ano de 2011/2012 para
produzir, coletar e supervisionar a produção de alimentos de forma
qualitativa.
Dessas
110 famílias certificadas, 50 são apoiadas pelo Projeto Dom Helder Câmara
(PDHC), 45 são produtoras de castanha-de-caju e são assessoradas pela Coopapi e
15 são assessoradas pela Diaconia com algodão agroecológico. Segundo Shyrlley,
a organização desses grupos, o interesse da Coopapi em envolver famílias e
parceiros e a parceria com o PDHC motivaram, estimularam e alavancaram esse
processo amplamente. A certificação vem em um momento importante, um ano de
grande estiagem, o que significa muito para as famílias produtoras. Com essa
conquista, os agricultores e as agricultoras poderão acrescentar até 30% do valor
de mercado para seus produtos certificados quando comercializados.
Acopasa – Estimulados pela
conquista da certificação e vislumbrando mais conquistas na produção de
alimentos agroecológicos, agricultores do território do Sertão do Apodi (RN)
criaram, este mês, a Associação de Certificação Orgânica Participativa do
Sertão do Apodi (Acopasa). A iniciativa é importante e histórica para os
agricultores que pretendem consolidar um trabalho de certificação orgânica
participativa de produtos oriundos da agricultura familiar.
Com essa
associação, os agricultores geram mais confiança no processo de produção de
alimentos e demonstram que estão em conformidade com a lei dos orgânicos,
possibilitando a comercialização dos produtos da agricultura familiar em diversos
tipos de mercado, gerando inclusão social e renda a partir de sistemas
produtivos mais sustentáveis. A Acopasa reúne 15 núcleos locais de produção
distribuídos em cinco municípios do território do Sertão do Apodi.
Após
credenciamento junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
(Mapa), a Acopasa poderá conferir certificação e selo orgânicos à produção de
seus integrantes por meio de um Sistema Participativo de Garantia (SPG) da
Conformidade Orgânica. Esse selo orgânico e a marca da Acopasa serão utilizados
nas embalagens dos produtos certificados, habilitando sua comercialização como
orgânico.
Fonte: Diaconia.org.br