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Hoje, o moderno é não falar
de rimas. Quando Zé Dantas empunhava a pena para escrever um verso, o universo
inteiro a ele se curvava, e o rei chegava com a melodia, um baião surgia, e o
povo cantava, e o povo ficava naquela euforia, uma fogueira acendia, uma moça
gritava, o fole roncava, era aquela alegria. A fogueira de hoje seu moço, mal
acende se apaga, não tem mais Gonzaga, não tem mais poesia.
Humberto Teixeira, Zé
Dantas, Zé Marcolino, João Silva, e tantos outros menestréis que fizeram a
escrita para a majestosa obra de Luiz Gonzaga, também merecem o nosso apreço,
naquele cantinho da história da música brasileira, nordestina.
Para se cantar Luiz Gonzaga,
é preciso ter no sangue, a coragem de um povo farto de sol, à espera de que um
dia a chuva venha. É preciso saber das crenças, dos costumes e ter o sotaque de
quem traz na alma, a aridez aguda dessa gente sofrida que além de tudo ainda
continua sendo forte. É preciso ser rasgadamente sertanejo se deixar levar na
dança pelos braços de uma cabocla sestrosa e suadeira, daquelas que se derrete
toda quando entra num forró.
Gonzaga, não era só um
sanfoneiro. Era um gênio. O rei do baião. O ídolo da gente. E quando se
aproximava o mês de junho, lá vinha ele entoando alguma cantiga geralmente em
parceria com Zé Dantas, Zé Marcolino, Humberto Teixeira, Onildo Almeida, e por
último João Silva, Arcoverdense arretado. Ê tempinho bom! É por isso que digo:
Luiz Gonzaga era um divisor de águas. Dividiu a história da música brasileira
em antes e depois dele. Era música popular e não pra pular. Ê! Saudade. Saudade
das machinhas juninas que Paulo Carvalho tanto sente falta, e por isso, com
toda razão, não dar nenhum incentivo a essa folclorização urbana que
infelizmente, Pernambuco ainda insiste em absorver, mesmo sabendo do potencial
interno bruto: bruto no sentido da autenticidade, e não no sentido da ignorância
que tanto se propaga. Não temos nada a ver com isso. O problema é dos cegos que
não enxergam a razão desse povo. O meu Brasil é Pernambucano e a nossa música é
universal. O buraco é mais em baixo companheiro.
É aí, que eu me encaixo, e
assim me acho seguidor e fiel discípulo da imensa sabedoria desse cantador.
Podem me chamar de cafona, eu gosto é de sanfona, eu gosto é de forró.
Maciel Melo Sobre Luiz
Gonzaga